Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Vinícius de
Moraes. Todos esses e muitos outros artistas e personalidades já
ganharam o título de cidadão paulistano. Eu nunca entendi ao certo qual o
motivo da honra. Afinal, sou paulistana nascida e criada e nunca me senti,
digamos assim, honrada. Já pensei até em anunciar minha naturalidade no Mercado
Livre, só pra ver o tamanho da procura. O fato é que, durante muito tempo,
briguei com São Paulo. Não reconhecia, muito menos apreciava a tal da “poesia concreta
de tuas esquinas”. Tudo era apenas concreto. Sem poesias. E tudo isso era
a visão de uma pessoa que sempre rodou muito por aqui, já conheceu muitos
cantos e antros. Desde a periferia sem reboco nas casas, até os sambas para
“inglês ver” da Vila Madá (para os descolados! ui!).
Eu precisei rodar muito para
me identificar. Não, não rodei o mundo. Esse giro foi menos geográfico que
interno. Claro, a mudança para Campinas durante o período da graduação foi o
divisor de águas nesse processo de “pazes com São Paulo”. A terceira maior cidade
do Estado, de fato, não me apeteceu. Pelo contrário. Despertou em mim a vontade
de explorar com mais intensidade e mais disposição o “meu chão”. E foi o que eu
fiz, por um certo tempo. No entanto, no meio do caminho tinha uma outra cidade.
Tinha um Rio de Janeiro no meio do caminho. E, sobretudo, tinha uma noção de
que o Rio de Janeiro era uma São Paulo só que sem os paulistanos e sem o
tamanho exagerado dessa cidade que, por vezes, assusta.
Uma mala nas costas, um sonho
na cabeça e uma casa deliciosa para morar em Santa Teresa. Era tudo o que eu
queria para me estabelecer de vez na Cidade Maravilhosa. Quando saí, não queria
pensar na volta. Meu nome era ansiedade e uma vontade louca de viver tudo o que
eu tinha direito. E mais um pouco. Durante 5 meses, perambulei pelo Rio como se
não houvesse amanhã. Dancei, bebi, amei, conheci lugares, pessoas. Fui feliz.
Quando chegou a hora do retorno, eu estava estranhamente tranqüila, calma e
satisfeita. Parecia a vida me dizendo: - caia em si, Pâmela! E foi assim que eu
pude afirmar com segurança: voltei, São Paulo!
É bem verdade que São Paulo
assusta, repele. Dizem que cinza é a cor oficial da cidade. Vamos combinar que
cinza não é lá uma cor muito convidativa. Por outro lado, só diz que cinza dá o
tom por aqui, quem nunca ousou descer a colorida Rua Augusta. Ou então, quem
nunca viu o amanhecer por uma janela de apartamento na Praça Roosevelt. Esse
papo de que “não existe amor em SP” é balela, papo furado. As cores e amores
estão por todos os cantos. Open your mind.
Por isso, para 2012 eu quero
mais São Paulo. Quero descobrir cada canto, cada pedaço dessa Paulicéia
desvairada. Quero os milhares de shows que vem por aí; quero assistir os filmes
que só passam aqui; quero me jogar nas pistas das festas; quero cerveja nos
botecos sujos da Augusta; quero os moços que perambulam por aqui. Quero,
finalmente, viver aqui.
Por quanto tempo? Eu não sei.
Pode ser pra sempre, como pode ser por 5, 10, 20 anos. Isso não interessa
agora. Qualquer coisa, é só colocar a mala nas costas novamente e ir, ir, ir!
Por enquanto, o que desperta o interesse dos meus dois olhos negros é a vontade
de reinventar a urbe, “ter” uma São Paulo
só pra mim! E eu recomendo que você faça o mesmo. Aqui sempre cabe mais um,
dois, três!
Texto elaborado em Fevereiro de 2012.